20 maio 2017

NÃO AO ESTILO DE VIDA DOS RICOS



“Mas ai de vós ricos, porque tendes a consolação agora” (Lc 6,24).

Provavelmente muitos dos que leem esta mensagem vivem em casas com água encanada e eletricidade, possuem os eletrodomésticos básicos e pelo menos um carro e um computador.
Alguns podem ter uma segunda casa na praia ou no campo, um barco de pesca e condições financeiras favoráveis.


Assim, quando Jesus fala “Ai de vós ricos” (Lc 6,24), é fácil não darmos a devida atenção e pensarmos: “Jesus não pode estar falando de mim. Eu não sou rico, só tenho o que a maioria tem”. Entretanto, esta comparação não está correta, pois se for para fazê-la, devemos nos comparar com aqueles a quem Jesus dirigiu essas palavras. Nenhuma daquelas pessoas que tinham vindo de longe para ouví-Lo e ser curadas por Ele (Lc 6,17) possuía casa com água encanada e eletricidade, nem um bom colchão para dormir. Mesmo os ricos daquela época que pudessem estar entre a multidão, jamais imaginariam o estilo de vida que até os mais simples de hoje podem ter. E apesar de tudo isso, Jesus considerou importante alertar seus contemporâneos para o estilo de vida dos ricos: “ Aqui vos dou apenas um conselho sobre esta questão da riqueza e da pobreza” (2Cor 8, 1-10).


Jesus, hoje, é o mesmo daquele tempo (Hb 13,8), e, nós, hoje, por seus padrões, somos ricos. Portanto, o alerta que Jesus fez serve, sim, para nós, e não devemos, de maneira alguma, desconsiderar as palavras Dele. Jesus é Senhor e Juiz, e Sua palavra deve fazer-nos tremer. (Is 66,2). Por isso, devemos adotar um estilo de vida ditado por Seus valore e não pelos valores do mundo.


Está na hora de nos arrependermos por não simplificarmos nossas vidas e não nos ajustarmos às diretrizes do reino de Deus. Tenhamos muito cuidado com as posses materiais. Estas são ferramentas para prática da caridade. Em tudo, sejamos solidários (1).

Charles de Foucauld

Escreveu o grande místico, o eremita do deserto Saara Charles de Foucauld: “Não quero passar minha vida em primeira classe, enquanto Aquele que me ama a passou na última”. “Meu Senhor Jesus, como depressa ficará pobre aquele que, amando-Te de todo o coração, não pode suportar ser mais rico que seu bem-amado... Meu Deus, não sei se é possível para alguém, ver-Te pobre e continuar rico como antes...” (Meditações sobre o Evangelho).

Papa Francisco: triste ver padres e bispos apegados ao dinheiro


“Bispos e sacerdotes vençam a tentação de “uma vida dupla”, a Igreja deve servir aos outros e não servir-se dos outros”. Esta é uma das passagens da homilia do Papa Francisco na manhã de sexta-feira (06/11/2015), na Casa Santa Marta. O Pontífice chamou atenção para os “carreiristas, apegados ao dinheiro”. “Também na Igreja, há aqueles que em vez de servir, de pensar nos outros, de estabelecer as bases, se servem da Igreja: os carreiristas, os apegados ao dinheiro. E quantos sacerdotes, bispos vimos assim. É triste dizer isso, não? A radicalidade do Evangelho, do chamamento de Jesus Cristo: servir, estar ao serviço de, não parar, ir ainda mais longe, esquecendo-se de si mesmo. E o conforto do status: eu atingi um status e vivo confortavelmente sem honestidade, como os fariseus de que fala Jesus, que passeavam pelas praças, para serem vistos pelas pessoas” (2).


De forma contundente afirma o Papa Francisco: “O nosso povo perdoa muitos defeitos nos padres, exceto o de serem agarrados ao dinheiro. E não é tanto pela riqueza em si, mas porque o dinheiro nos faz perder a riqueza da misericórdia” (3).


Disse Jesus: “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19,23.24).


Inácio José do Vale
Professor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Irmãozinho da Fraternidade da Visitação de Charles de Foucauld

Notas:
(1) (UM PÃO, UM CORPO, 10/09/2009, p.46).